A verdade por trás de um processo doloroso, porém fundamental para a saúde emocional: o luto
Normalmente acredita-se que existe um tempo exato para se vivenciar e ressignificar a vida após a vivência da perda de alguém próximo. Alguns estudos e artigos científicos ultrapassados afirmam que um prazo de seis meses é o suficiente para que os sentimentos suscitados pelo luto se acomodem dentro de nós e após esse prazo, caso a pessoa continue vivendo seu enlutamento poderia se considerar um possível processo de adoecimento.
Falar sobre morte é sempre um assunto muito delicado, pois, nos lembra de nossa própria finitude, nos coloca a frente com nossa realidade e com alguns de nossos medos.
Hoje, com tantos profissionais qualificados se dedicando ao estudo das emoções vivenciadas durante este processo, já sabemos que não há um tempo certo e que o diagnóstico de luto complicado, que é aquele que causa adoecimento no indivíduo, pode ser identificado em qualquer momento do processo por profissionais qualificados.
Luto é processo de reconstrução emocional e psicológica do indivíduo após uma perda significativa, que pode ser sentido após um término de relacionamento, uma demissão, um diagnóstico de uma doença terminal ou a morte de uma pessoa próxima. Neste processo nos vemos obrigados a reorganizar as emoções e os sentimentos em relação ao que foi perdido e compreender o tamanho da importância do que deixou de existir.
Evitar o processo do luto é possível para algumas pessoas, principalmente para aquelas que de forma inconsciente acreditam que não conseguirão abarcar o tamanho da dor que tal perda pode causar. Esse comportamento pode acarretar muitas consequências, pois evitar o processo do luto não minimiza nem elimina a saudade ou a ausência e pode causar um adoecimento psicológico inimaginável.
Como já foi dito, não há tempo para viver o enlutamento e cada pessoa irá vive-lo de maneira única. Elisabeth Kübler-Ross, precursora dos estudos do tema afirma que vivenciamos cinco fases durante o processo do luto são elas: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão, aceitação. Muitos acreditam que essa ordem á vivenciada assim como descrita pela autora, porém sabe-se que, na prática, essas fases surgem de maneira desordenada e eventualmente uma fase ou outra pode voltar a ocorrer durante o processo.
Nos moldes atuais de enfrentamento ao processo de luto, os profissionais observam o comportamento do paciente em relação ao que se chama de modelo dual de enfrentamento (STROEBE & SCHUT), que observa a movimentação do paciente em relação a perda e reparação, isto é, imediatamente após o falecimento, o indivíduo enlutado volta-se totalmente para perda, apresentando comportamentos de isolamento e profunda tristeza, após algum tempo a pessoa precisa voltar à sua rotina, cuidar-se, cuidar da casa, voltar ao trabalho, socializar, etc.
“Para sair do luto é necessário mergulhar nele” ouvi uma vez em uma aula sobre o tema e trata-se da mais pura verdade, pois observando-se, respeitando suas dores, seus limites, encontra-se o modo mais saudável de vivenciar a perda e consequentemente, dentro do modelo dual chegar a reparação, que não se trata de esquecer a pessoa que partiu, mas lembrar dela sem que a saudade traga à tona a dor do momento imediato após a perda.
Assim como praticamente todas as outras vivências, o luto também é subjetivo, portanto cada um de nós vivenciará sua perda de forma única, não havendo o tempo exato para isso.
O luto de uma mãe/pai pela perda de um filho por exemplo é um dos mais mobilizadores, pois é o que mais leva tempo de ressignificar, acredita-se que em média esse luto leve aproximadamente de três anos para que os pais consigam encontrar meios de viver frente à essa perda.
Independente do grau de parentesco, da forma como se deu o falecimento do ente querido, do histórico familiar ou de qualquer outro aspecto vivenciado por quem fica, enlutar-se é necessário para que a saúde psicológica e emocional se reconstitua de maneira saudável, não havendo um molde para essa vivência e nem tempo exato. O que é importante dentre deste contexto é viver essa dor e caso a pessoa perceba que não está conseguindo abarcar sozinha essa experiência o melhor é procurar profissionais qualificados para ajudar.
Kátia Rosa, psicóloga. Formada em 2017 pela UNIP, atendo pela abordagem Fenomenológica-existencial. Sou especialista em intervenção a enlutados e psicóloga paliativista. Possuo consultório em Votorantim/SP há 4 anos.
@psi.katiarosa
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